A administração de Taiwan revelou novo pacote orçamentário suplementar de defesa no valor de US$ 40 bilhões diante de uma crescente ameaça da China, segundo afirmou o presidente da ilha, Lai Ching-te, nesta quarta-feira (26). Os gastos precisarão ser aprovados pelo Parlamento de Taiwan, dominado pela oposição ao partido de Lai.
Pequim, que considera Taiwan parte de seu território, intensificou a pressão militar e política nos últimos anos com exercícios militares e declarações veementes para reafirmar suas reivindicações, algo que Taipé rejeita.
Enquanto Taiwan enfrenta apelos dos Estados Unidos para gastar mais com sua própria defesa, Lai disse em agosto que esperava um aumento nos gastos com defesa para 5% do Produto Interno Bruto até 2030.
“Não há espaço para concessões em segurança nacional. A soberania nacional e os valores fundamentais de liberdade e democracia são a própria base da nossa nação”, afirmou Lai em entrevista coletiva.
O ministro da Defesa de Taiwan, Wellington Koo, disse que o orçamento, que vai de 2026 a 2033, cobrirá itens como mísseis e drones, além do novo sistema de defesa aérea, chamado de T-Dome.
Lai havia sinalizado anteriormente gastos extras com defesa, mas até então não havia fornecido detalhes.
O representante diplomático dos EUA em Taipé, Raymond Greene, escreveu no Facebook que Washington apoia a “aquisição rápida de capacidades assimétricas críticas” por Taiwan.
“O anúncio de hoje é um grande passo para manter a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan, fortalecendo a dissuasão”, acrescentou Greene. Os EUA não têm relações formais com Taipé, mas mantêm laços econômicos e importante auxílio de defesa previsto em lei, por isso Greene não ostenta o cargo oficial de embaixador, embora atue nesse sentido em Taipé.
Taiwan tem modernizado suas Forças Armadas para promover uma abordagem assimétrica à guerra, tornando suas forças, em muito menor número do que as da China, ágeis e capazes de fazer frente ao Exército de Pequim.
Para 2026, a gestão da ilha planeja que esses gastos de defesa atinjam US$ 30,3 bilhões, representando 3,32% do PIB e ultrapassando o limite de 3% pela primeira vez desde 2009.
Cheng Li-wun, presidente do maior partido de oposição de Taiwan, o Kuomintang, rejeitou anteriormente o aumento dos gastos com defesa. Nesta quarta-feira, ela não disse diretamente que o partido votaria contra o orçamento, mas instou Lai a “recuar do precipício”.
“Também espero que a comunidade internacional possa entender que o povo de Taiwan ama a paz e deseja firmemente a paz. Queremos ficar longe das chamas da guerra, queremos evitar a guerra”, afirmou Cheng em uma reunião do partido.
O anúncio de Lai ocorre enquanto as relações entre China e Japão voltaram a ficar tensas em meio a uma confrontação que envolve Taiwan. Recentemente, a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, disse que um hipotético ataque chinês a Taipé poderia desencadear uma ação militar japonesa.
“Lançar constantemente ameaças e ataques multifacetados contra países vizinhos a cada momento não é a conduta esperada de uma potência responsável”, disse Lai, quando questionado sobre o assunto e referindo-se à China.
Falando anteriormente em Pequim, um porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan da China disse que a ilha está permitindo que “forças externas” ditem suas decisões.
“Eles desperdiçam fundos que poderiam ser usados para melhorar o sustento das pessoas e desenvolver a economia na compra de armas e no favorecimento de potências externas. Isso só mergulhará Taiwan no desastre“, disse o porta-voz Peng Qingen a repórteres.
Desde que o presidente Donald Trump voltou à Casa Branca, em janeiro, ele aprovou apenas uma nova venda de armas para Taiwan, um pacote de US$ 330 milhões para caças e outras peças de aeronaves anunciado neste mês.
“A comunidade internacional está mais segura hoje devido à busca da paz através da força pela administração Trump”, escreveu Lai em artigo de opinião publicado no jornal americano The Washington Post.
Lai afirmou que os laços de Taiwan com os EUA eram “sólidos como uma rocha”, quando questionado em entrevista coletiva se estava preocupado com a visita de Trump à China, prevista para abril do ano que vem, dadas as melhores relações comerciais entre Washington e Pequim.
“Recentemente, antes de sua viagem à Ásia, o presidente Trump enfatizou especificamente que ‘Taiwan é Taiwan’ e o presidente Trump [disse que] pessoalmente respeita Taiwan. Essas duas breves declarações dizem tudo”, disse Lai.




