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Portugal: Líder da ultradireita comete gafe e vira piada – 15/09/2025 – Mundo

“O Parlamento aprovou a ida do presidente da República à Alemanha para ir a um festival de hambúrgueres à conta dos nossos impostos. Acham isso normal? Será que os portugueses não se revoltam?”

A frase, publicada na quarta (10) na rede social X, seria apenas mais uma das provocações de André Ventura, líder da ultradireita portuguesa, não fosse por um detalhe: “Bürgerfest” nada tem a ver com hambúrgueres; em português seria algo como “festa dos cidadãos”. E o erro fez Ventura se tornar a piada do final de semana no país lusitano.

Em Portugal, o presidente da República não é o líder do Executivo. No semiparlamentarismo que vigora no país, cabe ao premiê escolher os ministros e tocar o programa de governo. O presidente é responsável pelo comando das Forças Armadas, por intervir em alguns momentos de crise e pelas relações internacionais –o que implica em viagens constantes.

O ocupante da cadeira, Marcelo Rebelo de Sousa, foi convidado por seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, para participar da Bürgerfest, na qual Portugal era o país homenageado. “Eu não podia dizer: ‘Olhe, eu não vou, e quero que Portugal deixe de ser homenageado’”, afirmou Rebelo de Sousa depois da gafe de Ventura.

Realizada anualmente em Berlim, nos jardins do palácio presidencial de Bellevue, a Bürgerfest tem como objetivo exaltar a cidadania e o trabalho voluntário.

Condizente com seu estilo, Ventura preferiu dobrar a aposta a desculpar-se. “O presidente da República é que deveria pedir desculpas por ficar viajando à custa do erário”, disse em entrevista coletiva.

Ele acusou Rebelo de Sousa de fazer mais de 1.500 viagens nos quase oito anos de um mandato que se encerra no final deste ano, sem dizer de onde tirara a estatística. O presidente respondeu que tinha feito 200 viagens, se tanto, “e se pudesse viajaria ainda menos, pois é cansativo”.

De acordo com o escritor e jornalista Miguel Carvalho, que acaba de lançar o livro “Confidencial – Por dentro do Chega”, o episódio, paradoxalmente, pode funcionar a favor do próprio Ventura. “É algo ridículo, mas dá a ele a justificativa da vitimização”, disse Miguel Carvalho à Folha. “Quem já o apoia, os mais fanáticos, acham que ele está, mais uma vez, a ser vítima do sistema.”

A provocação a Rebelo de Sousa tem uma razão objetiva: Ventura está de olho na cadeira do atual presidente. Ele ficou de anunciar se será ou não candidato às eleições marcadas para o início de 2026 nesta terça-feira (16).

O líder do Chega concorreu no último pleito em 2021 e ficou em terceiro lugar, com 12% dos votos – Rebelo de Sousa foi reeleito em primeiro turno com 60%. Ventura tem dito em entrevistas que espera mais do que dobrar esse número caso seja candidato.

O verdadeiro objetivo de longo prazo do líder da ultradireita, no entanto, é chegar a primeiro-ministro. Uma pesquisa realizada pelo instituto Aximage para o jornal Diário de Notícias apontou um empate técnico entre o Chega, o Partido Social Democrata, de centro-direita, e o Partido Socialista, de centro-esquerda, se as eleições legislativas fossem hoje.

O detalhe é que, pela primeira vez, o Chega pontuou na frente em números absolutos. Hoje, o partido de André Ventura já é o segundo na Assembleia da República, com 60 deputados, contra 58 do Partido Socialista e 91 da Aliança Democrática, a coligação que lidera o governo.

Para Miguel Carvalho, um dos grandes problemas do Chega é que ele não tem propostas concretas para oferecer aos cidadãos. “Muitos dos projetos apresentados pelo partido atendem somente a uma demanda midiática, são anunciados apenas para provocar polêmica e depois deixados de lado”, diz o autor do livro sobre o Chega.

Ventura despontou no cenário político culpando cidadãos ciganos –novamente sem evidências— pelo aumento da criminalidade na cidade de Loures, área metropolitana de Lisboa, em vídeos que viralizaram nas redes sociais.

Sua equipe monitora minuciosamente o alcance de suas postagens, muitas delas feitas de improviso e com dados incorretos. O caso do “festival do hambúrguer” é um exemplo. Trata-se de uma gafe inegável –mas manteve o nome do candidato, ainda que por razões duvidosas, nos “trending topics” (os assuntos mais comentados) no final de semana.

Fonte: Folha de São Paulo

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