O Exército do Nepal retomou o controle da capital, Katmandu, nesta quarta-feira (10), em meio a um toque de recolher, após dois dias de intensas manifestações que resultaram na queda do primeiro-ministro nepalês, K. P. Sharma Oli.
Os protestos eclodiram após uma proibição do uso de redes sociais no país anunciada na semana passada pelo premiê, que é do Partido Comunista —a decisão foi revogada após os confrontos. O número de vítimas subiu para 25 nesta quarta, segundo o Ministério da Saúde do Nepal, e 633 pessoas ficaram feridas.
Com o toque de recolher, apenas militares e poucos comerciantes ocupavam as ruas da capital. Soldados também patrulhavam o Parlamento, um dia após manifestantes atearam fogo no edifício e em casas de membros do governo –mesmo após a renúncia do então líder político do país.
O toque de recolher está previsto para durar ao menos até esta quinta-feira (11), segundo anúncio do Exército. “Qualquer manifestação, vandalismo, saque, incêndio criminoso e ataques a indivíduos e propriedades em nome de protesto serão considerados crimes puníveis e ações rigorosas serão tomadas”, diz o comunicado das Forças Armadas.
Veículos queimados e objetos de metal espalhados pelas ruas formavam o cenário na região ao redor do Parlamento. Bombeiros foram acionados para eliminar focos de incêndio no interior do prédio. Veículos blindados faziam vigília em ruas praticamente desertas, com lojas e mercados fechados.
O principal aeroporto de Katmandu reabriu nesta quarta-feira, após mais de 24 horas com voos suspensos. “Estamos tentando normalizar a situação primeiro. Estamos comprometidos em proteger a vida e a propriedade das pessoas”, disse o porta-voz do Exército, Raja Ram Basnet.
Segundo a polícia, três de seus agentes morreram nos distúrbios. Mais de 13.500 detentos aproveitaram o caos e escaparam das prisões, disse à agência de notícias AFP o porta-voz da polícia Binod Ghimire.
O Estado-Maior do Exército voltou a advertir que reprimirá sem hesitação “manifestações, atos de vandalismo, saques ou incêndios e ataques contra pessoas e bens”. O Exército anunciou ter prendido 27 pessoas na capital e confiscado 23 armas de fogo.
A imprensa local informou que preparativos estão sendo feitos para uma reunião entre manifestantes e autoridades. Há, contudo, poucos detalhes sobre quando e como esse encontro deve acontecer. O ex-juiz da Suprema Corte Balaram K.C. pediu aos manifestantes que formassem uma equipe de negociação, com o Exército ajudando a manter a lei e a ordem, e defendeu a realização de novas eleições.
A atual crise teve início com a divulgação de vídeos virais nas redes sociais contra os “nepo babies” da elite do país, filhos de políticos que ostentam vida luxuosa na internet e cujos pais são acusados de corrupção.
O governo de Oli respondeu às críticas proibindo 26 redes sociais de operar no Nepal, incluindo Facebook e YouTube. A decisão serviu de estopim para as manifestações, e nem a renúncia de Oli foi o bastante para acalmar os manifestantes, que passaram a fazer novas exigências —como o fim da corrupção e mais empregos para jovens.
O gabinete de segurança da Índia também se reuniu nesta terça para discutir a situação no país vizinho. “A estabilidade, a paz e a prosperidade do Nepal são de extrema importância”, disse o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em uma publicação no X. “Apelo humildemente a todos os meus irmãos e irmãs no Nepal para que mantenham a paz e a ordem.”
Durante anos, a falta de empregos no Nepal levou milhões de pessoas a procurar trabalho em lugares como Malásia, Oriente Médio e Coreia do Sul, principalmente em canteiros de obras, para poder enviar dinheiro para casa.
Encravado entre a Índia e a China, o Nepal tem lutado contra a instabilidade política e econômica desde que os protestos levaram à abolição de sua monarquia em 2008.




