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Ação dos EUA contra Maduro divide venezuelanos na Flórida – 25/11/2025 – Mundo

A incerteza paira sobre venezuelanos-americanos como Liz Rebecca Alarcón, de Doral, cidade na Flórida com diversos migrantes do país sul-americano nos arredores de Miami. Conversas rotineiras no supermercado foram dominadas por questões sobre se, quando e como o presidente Donald Trump poderia intensificar o uso da força contra a Venezuela.

“O que vai acontecer?”, amigos, vizinhos e lojistas perguntam uns aos outros, diz Alarcón. “Não sabemos qual será o resultado ou qual é a estratégia.”

Há meses, os Estados Unidos têm intensificado sua campanha de pressão contra a Venezuela com um significativo aumento das forças navais no Caribe e ataques mortais a embarcações que diversos especialistas em leis que regem o uso da força armada denunciaram como ilegais.

Os últimos dias têm sido extenuantes, dizem Alarcón e vários outros venezuelanos-americanos, com a intervenção militar parecendo iminente apenas para Trump dizer que estaria aberto a negociações com o ditador Nicolás Maduro.

No entanto, os muitos venezuelanos que fugiram para o sul da Flórida nos últimos 25 anos —após Hugo Chávez e depois Maduro, seu sucessor, chegarem ao poder— não concordam todos sobre o que deveria acontecer. As diferenças de opinião, agravadas pelo desconforto com as políticas de imigração de Trump, estão criando divisões tensas entre os venezuelanos na região, enquanto apoiadores da intervenção dos EUA tentam abafar críticos que consideram uma pequena minoria.

“Em teoria, deveríamos estar unidos pela mesma coisa, que é a liberdade para a Venezuela”, diz Esteban Hernández Ramos, 30, morador da cidade de Fort Lauderdale. “Na prática, existe essa divisão.”

Hernández deixou a Venezuela quando tinha 16 anos e agora trabalha para um veículo de mídia de direita que publica notícias pró-Trump em espanhol. Ele quer que os militares americanos ocupem a Venezuela por um período prolongado —não apenas para derrubar Maduro, amplamente considerado autor de uma fraude nas eleições presidenciais de 2024, mas também para desmantelar a liderança militar que o mantém no poder.

Já Alarcón, 36, nasceu nos EUA e trabalha como analista política democrata. Ela deseja uma transferência pacífica de poder de Maduro para Edmundo González, o diplomata que derrotou o ditador na eleição presidencial do ano passado, segundo a contagem de votos da oposição venezuelana. No entanto, diz estar cética de que a pressão de Trump resultaria no resultado que ela deseja.

Os laços dos venezuelanos com o sul da Flórida remontam a décadas, mas seus números cresceram significativamente durante a era Chávez e novamente após Maduro chegar ao poder. Abraçados pelos influentes exilados cubanos de Miami, que os viam como irmãos ideológicos fugindo de uma ditadura, os eleitores venezuelano-americanos foram cortejados por políticos republicanos, que conseguiram persuadir muitos deles a apoiar o partido.

Agora, discordar de Trump é visto entre muitos venezuelanos-americanos —incluindo alguns com idade suficiente para lembrar de intervenções militares desastrosas dos EUA na América Latina no passado— como antipatriótico e desleal.

“É como se, se você não estiver 1.000% com eles ou não quiser uma intervenção militar, então você é um colaborador”, diz Luis Fernando Atencio, 32, cofundador do Venezuelan-American Caucus, um grupo ativista de Miami aliado ao Latino Victory Project, de tendência de esquerda. Ele diz temer a intervenção militar porque poderia resultar em venezuelanos feridos ou mortos.

A grande maioria dos venezuelanos nos EUA se opõe a Maduro e gostaria de vê-lo fora do poder, afirma José Antonio Colina, um ex-militar venezuelano que fugiu de seu país para Miami em 2003, após ser acusado de plantar bombas em Caracas. Os EUA decidiram não extraditar o homem de 51 anos, que agora dirige um grupo chamado Venezuelanos Politicamente Perseguidos no Exílio.

“Como esse regime está lá pela força”, diz ele sobre Maduro, “tem de ser retirado pela força”.

Outros imigrantes, incluindo Colina, não conseguem aceitar a campanha de pressão com o esforço simultâneo do governo Trump para acabar com o status legal temporário de centenas de milhares de imigrantes venezuelanos. Em Doral, empresários e residentes notaram que a cidade parece mais silenciosa à medida que venezuelanos são deportados, saem voluntariamente ou permanecem em suas casas por medo.

“Há pelo menos 660 mil venezuelanos que estão sendo ameaçados de serem enviados de volta à Venezuela sob este regime que aparentemente está prestes a ser atacado pelos militares dos EUA”, disse Adelys Ferro, outra cofundadora do Venezuelan-American Caucus, em entrevista coletiva no mês passado. “Como você pode conciliar essas realidades?”

A deposição de Maduro deveria ser prioridade em relação à deportação de venezuelanos e à decisão de deixar seu destino nas mãos do líder, afirma Colina. Ele poderia aceitar as políticas de imigração de Trump se Maduro e seus aliados não estivessem mais no comando, acrescenta.

Ele e outros exilados que há muito condenam Maduro ultimamente se viram difamados por outros venezuelanos por questionarem Trump. Nas redes sociais, Colina diz, muitos tentam silenciá-lo. Tal comportamento, diz, “é irresponsável e não leva em conta o sofrimento de milhares de venezuelanos”.

César Miguel Rondón, um dos jornalistas de rádio mais conhecidos da Venezuela, que fugiu do país para Miami há oito anos, também enfrentou ataques online por expressar ceticismo sobre a abordagem de Trump. Ele foi chamado de colaborador do regime —uma atitude que, segundo ele, deixa pouco espaço para nuances ou meio-termo.

As redes sociais se transformaram em “uma espécie de pelotão de fuzilamento”, afirma. “Aqui, tive que ter muito cuidado ao opinar, por razões muito semelhantes às que me fizeram ser cuidadoso na Venezuela”, diz. “Tive que deixar a Venezuela precisamente por opinar e denunciar a ditadura. Mas aqui, a intransigência, especialmente entre nós mesmos, tornou-se algo inacreditável.”

Fonte: Folha de São Paulo

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