Alfiyan Elfatah gasta quatro horas por dia se deslocando entre a periferia distante de Jacarta e seu local de trabalho no coração da capital da Indonésia. O jovem de 31 anos suporta essa rotina há oito anos —mas só agora está oficialmente atravessando a maior cidade do mundo.
No mês passado, a ONU atualizou sua lista das maiores cidades do mundo após mudar sua metodologia para avaliar grandes conurbações. Ela foi além da contagem oficial indonésia de 11 milhões de habitantes em Jacarta, incluindo em seus cálculos uma área urbana muito maior que abrange cidades-satélite como Bogor, onde Alfiyan vive.
Como resultado, estima-se agora que Jacarta tenha quase 42 milhões de residentes, ultrapassando a grande Tóquio como a maior cidade do mundo, segundo a ONU.
Alfiyan, que vai para seu trabalho de marketing em um hotel de moto, trem e ônibus, vê poucas perspectivas de interrupção no crescimento da capital. “O desenvolvimento é desigual. A economia ainda está centralizada aqui, e vemos Jacarta como muito mais desenvolvida”, disse ele.
A metodologia alterada da ONU elevou Jacarta ao topo da lista, da posição número 30 em 2018. Também fez de Dhaka, a capital de Bangladesh, a segunda maior cidade do mundo, com 36,6 milhões de pessoas. Cidades da Ásia dominam a lista.
O governo de Jacarta e vários especialistas indonésios em planejamento urbano discordam da definição da ONU, mas dizem que a classificação fornece impulso para enfrentar os desafios da cidade. Congestionada e poluída, a cidade conhecida como “Grande Durião”, em referência à fruta do sudeste asiático famosa por seu forte odor, também está afundando até 20 cm anualmente.
“Este é um alerta para o governo enfrentar seriamente os problemas de Jacarta”, disse Azis Muslim, especialista em políticas públicas da Universidade da Indonésia. “O desafio seria como preparar a infraestrutura e melhorar a qualidade de vida.”
A Indonésia deveria acelerar os esforços para aliviar o congestionamento de tráfego na cidade, melhorando a interconectividade com cidades vizinhas e tornando a habitação mais acessível, afirmou.
Em entrevista, o governador de Jacarta, Pramono Anung, também disse que a classificação “não é realmente importante” por si só. “Mas os 42 milhões relatados pela ONU nos incentivarão a estar preparados”, afirmou.
Pramono disse estar comprometido em melhorar o transporte público para as 3,5 milhões a 4 milhões de pessoas que, segundo ele, se deslocam diariamente para a cidade. Ele afirmou que alocaria 30% do orçamento do governo de Jacarta, com previsão de totalizar US$ 4,9 bilhões no próximo ano, para melhorar a conectividade e outras infraestruturas.
No entanto, seus objetivos podem ser dificultados pelos planos do presidente Prabowo Subianto de cortar financiamento para governos locais como parte de um plano mais amplo para conter custos e canalizar fundos para um programa de refeições gratuitas para crianças em idade escolar, com custo anual estimado em US$ 28 bilhões.
As transferências do governo central para Jacarta foram reduzidas em US$ 1 bilhão para o próximo ano, tornando mais difícil “manter e gerenciar a infraestrutura”, disse Pramono, mas acrescentou que pretendia encontrar outras formas de levantar fundos.
Os problemas de Jacarta refletem os de outras cidades em rápido crescimento na Ásia, que a ONU diz ser agora o lar de cerca de metade das 33 megacidades do mundo —definidas como áreas urbanas com pelo menos 10 milhões de pessoas.
Hidayat, 53, decidiu sair de Jacarta há alguns anos para Tambun, a cerca de 35 km de distância. “Já está superlotado aqui em Jacarta. Para pessoas da minha idade, estamos procurando mais espaço… Mais conforto”, disse ele.
No entanto, a cidade continua sendo o indiscutível centro político e financeiro da maior economia do sudeste asiático. No ano passado, Jacarta —usando a definição indonésia da cidade com 11 milhões de residentes— contribuiu com cerca de 16,7% para o PIB da Indonésia.
Essa importância atrai pendulares, embora a infraestrutura de Jacarta não tenha acompanhado a expansão da cidade. Enquanto o número de ônibus e linhas ferroviárias cresceu, Pramono, o governador, disse que menos de 25% da população usa transporte público na própria Jacarta, que também está mal conectada às áreas urbanas circundantes.
Cici, 27, é uma dos milhões de pendulares diários da cidade, viajando duas horas em cada sentido. Ela preferiria trabalhar em sua cidade natal, Cikarang, a 45 km de Jacarta, mas não conseguiu encontrar um emprego desejável lá.
“Na verdade, quero alugar um quarto perto do escritório, mas os preços das moradias são caros”, disse ela. “Tenho que pegar o trem, aqueles muito lotados.”
Em comparação, a grande Tóquio, uma vasta área urbana centrada na capital japonesa, possui uma extensa rede de metrô, enquanto Xangai opera até 21 linhas.
“A grande área de Jacarta deve ser construída como um sistema único”, disse Marco Kusumawijaya, diretor do Centro Rujak para Estudos Urbanos em Jacarta. “Se Jacarta for a única a se desenvolver, vai se tornar cada vez mais cara… Ainda mais inacessível para as pessoas viverem lá. O número de pendulares aumentará.”
Reconhecendo os crescentes problemas de Jacarta, o antecessor de Prabowo, Joko Widodo, anunciou planos ambiciosos para construir uma nova capital, selecionando um local nas selvas da ilha de Bornéu. O desenvolvimento começou em 2022 e deve custar US$ 30 bilhões.
Nusantara, como será conhecida a nova capital, tem como meta ser totalmente concluída até 2045, embora várias agências governamentais devam se transferir gradualmente antes disso.
No entanto, desde que Widodo deixou o cargo, a nova capital foi colocada em segundo plano por Prabowo, que está focando em programas de bem-estar social e cortou financiamento para seu desenvolvimento. Quaisquer atrasos na construção significarão que a pressão sobre Jacarta só piorará.
Pramono reconheceu os desafios, mas disse que Jacarta continuará sendo o centro da atividade econômica do país e manterá seu apelo para milhões de indonésios de todo o arquipélago.
“Para mim, Jacarta é uma cidade cheia de sonhos”, disse ele. “É por isso que, como governador, não sou contra pessoas virem para Jacarta, porque é onde estão a esperança e os sonhos.”




