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HomeMundoAmérica Latina, o que esperar de 2026? - 27/12/2025 - Sylvia Colombo

América Latina, o que esperar de 2026? – 27/12/2025 – Sylvia Colombo

Em entrevista recente ao programa Roda Viva, o cientista político Steven Levitsky, coautor de “Como as Democracias Morrem”, afirmou que a América Latina atravessa um momento mais favorável à direita, impulsionado sobretudo por pautas de insegurança, imigração e economia. As votações realizadas neste ano no Chile, na Bolívia, em Honduras e a legislativa na Argentina indicaram um deslocamento do pêndulo político nessa direção. Se essa tendência se confirmará em 2026, já entramos no terreno da futurologia —e jornalistas, como se sabe, não costumam ser especialistas em bolas de cristal.

Uma das eleições mais reveladoras do próximo ciclo será a da Colômbia. O primeiro turno presidencial está marcado para 31 de maio de 2026, e o país colocará à prova não apenas o primeiro governo de esquerda de sua história, mas a capacidade dessa esquerda de transformar vitória simbólica em governabilidade efetiva. Durante décadas, a associação da esquerda com as guerrilhas —marcadas por marxismo, violência e terrorismo— impediu a emergência de uma força progressista moderada. Quem rompeu esse bloqueio foi Gustavo Petro, figura controversa e duramente atacada pela imprensa.

Seu governo tende a ser avaliado negativamente por análises mais superficiais, mas, levando-se em conta que se trata do primeiro governo de esquerda da Colômbia democrática, é necessário registrar alguns resultados concretos. Houve redução do desmatamento na Amazônia colombiana, redistribuição de terras improdutivas a camponeses deslocados pela violência e, segundo dados do instituto Indepaz, uma diminuição significativa na circulação de armas ilegais e no número de atentados. Também desapareceram práticas que marcaram décadas anteriores, como ataques a ministros, bombas em centros comerciais e assassinatos de jornalistas e empresários.

O principal problema de Petro foi político. A dificuldade de articular maiorias no Congresso levou ao naufrágio de reformas centrais. Ainda assim, reduzir seu governo a um fracasso seria impreciso. Indicadores apontam queda do desemprego, controle da inflação e crescimento acima da média regional. A política de “Paz Total” estagnou, e dissidências armadas passaram a operar em associação com cartéis transnacionais.

A esse quadro somou-se, no fim de 2025, um fator externo sensível: a escalada de tensão no Caribe e o confronto retórico com Donald Trump diante do endurecimento da política dos Estados Unidos em relação à Venezuela. O alinhamento discursivo de Petro com Nicolás Maduro rompeu a tradição colombiana de cautela diplomática e inseriu o país numa disputa geopolítica de custos eleitorais imprevisíveis. Vale lembrar que a Colômbia sempre foi o principal aliado dos EUA na região, desde o Plano Colômbia, impulsionado pelo ex-presidente Andrés Pastrana.

No Peru, a fragilidade institucional aparece de forma ainda mais crua. Marcada para 12 de abril de 2026, a eleição presidencial repete vícios do pleito anterior. A Junta Nacional de Eleições confirmou 36 chapas presidenciais e mais de 1.700 listas de candidatos para o Congresso e o Parlamento Andino. A impopularidade extrema do Congresso e do Executivo aprofundou a desconfiança nas instituições.

Já a Venezuela segue como a grande incógnita regional, não apenas pela sobrevivência do regime de Maduro, mas pelo impacto simbólico da ofensiva retórica e militar de Trump. Mesmo que permaneça no plano do teatro, a ameaça de uma intervenção dos EUA reativa um pesadelo histórico que a América Latina acreditava ter superado. Intervenções e golpes apoiados desde o exterior fazem parte de um passado traumático.


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Fonte: Folha de São Paulo

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