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Análise: Trump leva ‘Presidência imperial’ a novo patamar – 25/12/2025 – Mundo

Quando o presidente Donald Trump recebeu o príncipe herdeiro da Arábia Saudita no mês passado, ele não poupou esforços. À pompa tradicional de uma visita formal à Casa Branca, o líder republicano adicionou alguns toques ainda mais luxuosos: um sobrevoo militar, uma procissão de cavalos pretos e longas mesas reais para um suntuoso jantar na Sala Leste, em vez das típicas mesas redondas.

Para veteranos da Casa Branca que estavam atentos, o aparato parecia um pouco familiar. Apenas dois meses antes, o rei Charles 3º, do Reino Unido, recebeu Trump para uma visita de Estado que incluiu, sim, um sobrevoo militar, uma procissão de cavalos pretos e uma longa mesa real para um suntuoso jantar no castelo de Windsor.

Em seu primeiro ano de volta ao cargo, Trump adotou a pompa da realeza ao mesmo tempo em que reforçou o poder para deixar o governo e a sociedade dos EUA ao seu gosto.

Tanto na suntuosidade quanto na política, Trump estabeleceu uma nova versão da “Presidência imperial” que vai muito além até mesmo daquela associada a Richard Nixon, que governou os EUA de 1969 a 1974, para quem o termo foi popularizado há meio século.

O atual presidente não se contém mais, nem é contido, como no primeiro mandato; o Trump 2.0 é o Trump 1.0 “desencoleirado”. Os detalhes dourados no Salão Oval da Casa Branca, a demolição da Ala Leste para ser substituída por um salão de festas maciço, a fixação de seu nome e rosto em prédios governamentais, a designação de seu aniversário como um feriado —tudo isso aponta para uma acumulação de poder com parca resistência do Congresso ou da Suprema Corte.

Quase 250 anos depois que os colonos americanos expulsaram seu rei, este é indiscutivelmente o momento em que o país chegou mais perto, durante um período de paz geral, da autoridade centralizada de um monarca.

Trump assume a responsabilidade de reinterpretar uma emenda constitucional e de destruir agências e departamentos criados pelo Congresso. Ele dita a instituições privadas como devem conduzir seus negócios. Também envia tropas para as ruas americanas e trava uma guerra não autorizada contra barcos no Caribe. Ainda instrumentaliza a lei para o que o seu chefe de gabinete chama de “ajuste de contas” contra inimigos, enquanto distribui perdões a aliados.

A reinvenção da Presidência por Trump alterou o equilíbrio de poder em Washington de uma forma profunda, que pode perdurar muito depois de sua saída de cena. Ações que antes chocavam o sistema podem passar a ser vistas como normais. Enquanto outros presidentes testaram os limites, Trump os rompeu.

“Seu segundo mandato, em muitos aspectos, representa não apenas uma ruptura com as normas e expectativas presidenciais. É também o ápice de 75 anos nos quais os presidentes buscaram cada vez mais poder”, disse Matthew Dallek, historiador político da Universidade George Washington.

É ainda a culminância de quatro anos de planejamento entre o primeiro e o segundo mandato de Trump. Da última vez, ele era um novato político que não entendia como o governo funcionava e se cercou de conselheiros que tentaram conter seus instintos mais extremos. Desta vez, ele chegou ao cargo com um plano para fazer o que não conseguiu em seu primeiro mandato, e uma equipe de funcionários leais, com ideias semelhantes, e determinados a remodelar o país.

“Ele sabe exatamente como tudo funciona. Ele sabe quais estratégias e táticas funcionaram na primeira vez e quais não funcionaram”, disse Jason Miller, conselheiro de Trump.

Forte e fraco

Trump nega aspirações monárquicas. “Não sou um rei”, disse ele, depois que milhões de americanos foram às ruas nos protestos “No Kings” (“Sem Reis”), em outubro. Mas, ao mesmo tempo, ele abraça a comparação, ao menos em parte para provocar seus críticos, mas também, ao que parece, porque gosta da ideia.

Ele e sua equipe postaram imagens de Trump em trajes monárquicos, incluindo uma ilustração gerada por IA do presidente usando uma coroa e pilotando um caça rotulado como “Rei Trump” que despeja excrementos sobre manifestantes.

Para seus apoiadores, a confirmação de vasto poder de Trump é revigorante, não perturbadora. Em um país que veem em declínio, uma mão forte é a única maneira de desalojar um estado profundo progressista que, em sua visão, sufocou os americanos comuns em benefício de imigrantes indesejados, criminosos, magnatas globalistas, minorias consideradas subqualificadas e elites distantes da realidade.

Para seus críticos, Trump é narcisista, rude, corrupto e um perigo para a democracia americana. Ele usou o cargo para enriquecer a si e a sua família, manchou a imagem dos EUA ao redor do mundo e adotou políticas que prejudicam as próprias pessoas que ele afirma representar.

O que todos concordam é que Trump domina o cenário político como nenhum de seus predecessores há gerações, definindo sozinho a agenda e forçando sua vontade sobre o resto do sistema.

Ao mesmo tempo, é o presidente mais consistentemente impopular desde o advento das pesquisas. O republicano nunca teve o apoio da maioria dos americanos nas pesquisas Gallup.

Sua atual taxa de aprovação de 36% no Gallup é mais baixa do que a de todos os presidentes modernos eleitos ao final de um primeiro ano.

Alguns críticos preveem que a impopularidade de Trump começará a corroer seu poder. “Tem sido impressionante que os republicanos no Congresso tenham permanecido ao lado dele”, disse o ex-senador Jeff Flake, republicano do Arizona que rompeu com Trump no primeiro mandato.

“Mas eu acho que isso está mudando. Parte disso não é exatamente um exemplo de coragem, mas, sim, olhar para as vitórias eleitorais e perceber que as eleições de meio de mandato serão muito difíceis”.

Fonte: Folha de São Paulo

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