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Livro de Michelle Obama sobre roupas é documento histórico – 02/12/2025 – Ilustrada

O novo livro de Michelle Obama, “The Look”, é muitas coisas. É um best-seller da Amazon. É um livro de fotos brilhante, repleto de moda. É a história das expectativas que recaíram sobre a primeira mulher negra que se tornou primeira-dama dos Estados Unidos.

E é o terceiro volume de uma trilogia de livros de Obama que se concentram na autorrealização, que inclui suas memórias, seu livro de conselhos sobre como superar adversidades e, agora, uma reflexão sobre o poder das roupas.

Mas, acima de tudo, é um documento histórico, que captura um momento crucial na evolução do papel de primeira-dama, quando as roupas se tornaram uma parte ainda maior da comunicação. Quando, em outras palavras, o vestuário se tornou uma parte oficialmente reconhecida do trabalho. Isso é mais significativo do que pode parecer.

Afinal, Obama foi a primeira primeira-dama a ter uma estilista — ou “valete”, como Meredith Koop era chamada — na folha de pagamento da Casa Branca, contratada para ajudar a definir a estratégia visual da primeira-dama para todas as ocasiões, de apresentações públicas de bambolê até grandes eventos de gala.

Antes da eleição de Obama, primeiras-damas como Jacqueline Kennedy, Nancy Reagan e Hillary Clinton podiam até trabalhar com um estilista para criar seus vestidos para bailes de posse ou jantares de Estado, mas a relação era mais de cortesia e favor do que de estrutura formal.

Tratava-se mais de pompa e decoro do que de diplomacia, e as primeiras-damas tendiam a escolher um estilista (Oleg Cassini, James Galanos, Oscar de la Renta) e manter-se fiéis a ele.

Após Obama, no entanto, Melania Trump e Jill Biden passaram a contratar estilistas — Hervé Pierre para Trump e Bailey Moon para Biden — que atuavam como elo entre as marcas de moda e a Ala Leste. Elas trabalharam com diversos estilistas, para praticamente todas as ocasiões, muitas vezes com um conjunto específico de prioridades políticas em mente. Um novo modelo foi criado e tornou-se a norma.

O motivo disso ter acontecido é, em grande parte, o subtexto de “The Look”, lançado pela editora Crown no mês passado nos Estados Unidos e sem previsão de publicação no Brasil. E é por isso que o livro é importante. Ele revela, de uma forma inédita (e de fácil leitura), como o guarda-roupa se transformou em um veículo de poder político sutil. De certa forma, era inevitável.

Como a primeira mulher negra primeira-dama, Michelle Obama sabia que cada movimento seu seria minuciosamente analisado, inclusive cada roupa. Ela precisava representar todos os lados de um país dividido e precisava fazer isso como a primeira-dama da era das redes sociais.

A capacidade do mundo de ver e acompanhar cada aparição sua era muito maior do que jamais fora, e a capacidade de comentar cada aparição sua também era maior. Sua imagem — as fotos que circulavam pelo Instagram, Twitter e Facebook — importava como nunca antes, e, portanto, as escolhas envolvidas na criação dessa imagem importavam. O que estava em jogo havia mudado quando se tratava de roupas.

É isso que a própria Michelle Obama admite no livro. Havia especulações sobre o propósito por trás de muitas de suas escolhas de moda como primeira-dama em diversos livros, incluindo “Everyday Icon”, de Kate Betts, e “Michelle Obama: First Lady of Fashion and Style”, de Susan Swimmer (sem mencionar inúmeros artigos de críticos como eu).

Mas esta é a primeira vez que ela aborda abertamente o assunto de seu estilo e reconhece a equipe —Koop, a estilista; os cabeleireiros Yene Damtew, Njeri Radway e Johnny Wright; o maquiador Carl Ray — que ajudaram a torná-lo realidade.

Assim, ela escreve, a decisão de escolher Jason Wu, então um jovem e relativamente desconhecido estilista nova-iorquino nascido em Taiwan, para desenhar seu vestido de posse, foi uma forma de demonstrar “que iria defender pessoas, vozes e talentos que eram frequentemente ignorados”.

Pessoas que, diz ela, “representavam o talento diversificado do design de moda americano que eu queria mostrar ao mundo”.

Assim, aproximadamente cem looks diferentes usados por Michelle Obama como primeira-dama foram imortalizados no livro, sem contar os que ela usou durante campanhas eleitorais ou depois que os Obama deixaram a Casa Branca. É muita roupa para uma mulher usar, ou comprar, em apenas oito anos.

Principalmente quando os critérios para a escolha de cada look também incluíam a demonstração de respeito diplomático, como quando Obama recorria a um estilista cuja trajetória conectava os Estados Unidos e um de seus aliados para um jantar de Estado ou visita oficial — tudo para, como ela escreve, “prestar homenagem”.

Veja, por exemplo, o vestido de Tom Ford, um estilista americano radicado em Londres, que ela usou durante sua visita de Estado ao Reino Unido, ou o vestido da Versace, a marca italiana, que ela usou para o jantar de Estado na Itália.

Principalmente quando também havia questões práticas a serem consideradas — não só os costumes de diferentes países, mas o fato de que as roupas de Obama não podiam restringir seus movimentos, precisavam permitir que ela abraçasse alguém se desejasse e ser à prova de maquiagem que pudesse borrar com o contato.

Embora Michelle Obama escreva sobre tudo isso em “The Look”, bem como sobre as críticas frequentemente racistas que recebia por usar vestidos sem mangas, um assunto que ela evita é o custo.

A ex-primeira-dama menciona que tentou introduzir “marcas acessíveis, mas elegantes, em seu guarda-roupa”, incluindo a J. Crew, mas é inegável que adquirir tantas roupas representa uma despesa enorme — um fardo pago pela família presidencial, não pelo Estado.

Uma das maneiras de administrar esse custo é um estilista “presentear” o país com uma roupa para um grande evento público, o que significa que, embora a primeira-dama possa usar esse vestido uma ou duas vezes, ele vai para o arquivo nacional ou para uma biblioteca presidencial, e não para o seu guarda-roupa.

Ainda assim, isso não altera a mensagem principal de “The Look”. Michelle Obama adaptou seu próprio estilo ao que ela sentia que o país precisava, e isso se tornou óbvio depois que ela deixou a Casa Branca, com suas turnês de lançamento de livro e os experimentos de moda relacionados. Um smoking canadense! Botas Balenciaga até a coxa! Chanel direto das passarelas!

Isso reforça ainda mais a mensagem do livro: para qualquer primeira-dama, escolher as (muitas) peças de roupa que definirão seu mandato não é algo que acontece por acaso. Nem deveria ser: dá trabalho.

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.

Fonte: Folha de São Paulo

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